Desculpem o título besta deste post, mas o Rocket News 24 trouxe uma matéria bem interessante sobre o fato de garotas gordinhas estarem na moda no Japão. No texto em inglês, eles usam “chubby” e, não, “fat”, que no imaginário social remete coisas fofinhas, bonitinhas, enquanto o outro termo é carregado de sentidos desagradáveis, especialmente, em tempos de lipofobia (*ou gordofobia, você escolhe*). Enfim, aprendi uma série de coisas no artigo que me ajudaram a entender posts do Comic Natalie que me pareciam um tanto confusos.
Vamos lá! Já comentei sobre um mangá chamado Pochamani (ぽちゃまに) que está fazendo muito sucesso no Japão. Ele é protagonizado por uma menina gordinha, Tsumugi “Mugi” Hashimoto, que consegue ser feliz, ter amigas, se divertir, ainda que tenha seus momentos de dúvida e lute para vencer a baixa autoestima. Trata-se de uma jóia rara no meio das protagonistas de shoujo mangá. E ela ainda tem um namorado, um típico oujisama, que, bem, não é muito bem visto na escola, porque tem fixação por meninas gordinhas. Ele é um pochama, alguém que gosta de coisas e pessoas fofas.
Agora, as coisas estão fazendo mais sentido para mim. E, claro, o RN24 fala da Pocchari culture, isto é, uma nova tendência no Japão – um dos países com menor proporção população feminina obesa no mundo – que valoriza as mulheres que não estão dentro dos padrões de magreza atuais. Sim, mulheres. O texto nada fala de homens.
Eu até questiono se algumas moças que ilustram a matéria são realmente gordinhas. Aliás, a foto é das meninas do grupo de idols Chubbiness. O nome é auto-explicativo. Só que em tempos de beleza anoréxica, qualquer mulher que veste manequim 40 pode ser chamada de gorda. Vide o caso da pobre Giovana Antonelli tendo que se explicar...
O texto do RN24 fala da comediante Naomi Watanabe– ela já apareceu em alguns posts do CN relacionados à campanhas de Pochamani – criou uma grife para mulheres plus-size chamada PUNYUS. O interessante é que a grife não faz somente roupas G ou GG, mas contempla gente magra, também. A matéria trouxe fotos de modelos gordas e magras vestindo as mesmas roupas.
Naomi Watanabe é uma celebridade e mostra que uma moça gordinha pode ser ativa, bem sucedida e satisfeita consigo mesma. Por conta disso, ela é a modelo de capa de uma revista especializada na Pocchari Culture, a La Farfa. A revista – que já apareceu em matéria do CN sobre Pochamani – fala de moda e de como ela pode ser divertida e interessante para mulheres que estão acima do peso. Por fim, a matéria mostra uma capa da revista de moda CanCam com uma matéria dizendo que ser pocchari também é ser kawaii.
É interessante ver que o mangá Pochamani não está deslocado da realidade. Na verdade, ele está dialogando com uma tendência que é a valorização ou auto-valorização das mulheres que estão acima do peso. Afinal, em uma sociedade que repudia a gordura e exige que as mulheres sejam objetos agradáveis aos olhos (*masculinos?*), se ruma mulher acima do peso é automaticamente ser feia, desleixada, preguiçosa, fraca de caráter, etc.
Quem nunca ouviu a frase “Só é gordo quem quer”? Cabe questionar se estar acima do peso – tomando por base a tabela de IMC – torna uma pessoa automaticamente doente. Cabe também questionar quantas meninas - e meninos, também - adoeceram e adoecerão por causa da pressão para terem um corpo perfeito. Mas isso é o de menos, porque nossa sociedade do culto à beleza anoréxica, ao corpo “perfeito”, e da indústria de alimentos e da aparência não está lá muito interessada em saúde, mas na venda de imagens que nem sempre vem de braço dado com práticas mais saudáveis de vida. Daí, vale uma visitinha ao blog Não sou Exposição, que discute exatamente como é falacioso o discurso de que ser magro é ser saudável ou que obesidade é resultado de maus hábitos de vida.
É isso! Seria legal se Pochamani fosse transformada em anime ou dorama. Como a Hana to Yume está fazendo aniversário e está na moda ser pocchari, talvez, possa acontecer. Quem sabe?