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Ainda sobre a Copa: Minhas Últimas palavras sobre a Seleção Brasileira

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Eu estive fora da net quase o sábado todo, Júlia está meio doentinha, demandando muita atenção (*olha eu aqui ainda acordada depois de acalentá-la várias vezes*), e perdi o bate-papo internético e a entrega dos prêmios de terceiro lugar.  Verdade que os brasileiros não prestigiaram os holandeses? Enfim, se for o caso, é uma vergonha que se soma a outras.  Não sei se rolou: Já apareceu o pessoal dizendo que a mídia estava sendo deselegante por usar palavras como "vexame" e "humilhação" aplicadas à seleção atual? Já apareceu o povo do "é somente mais uma derrota... normal na história de qualquer grande seleção tipo... Zaire e Haiti!"? Já apareceu o povo do "quarto lugar SEMPRE é melhor do que quinto, sexto, sétimo, o importante é secar a Argentina"? 

Venhamos e convenhamos, essa seleção brasileira começou a desmoronar no jogo contra o Chile, antes, ia aos trancos e barrancos, mas sem dar tanta pinta.  O problema é que muita gente fechou os olhos, achou linda a choradeira e que Felipão sabia o que fazia, como o pai que cuida de sua família.  Patriotismo, especialmente, o de ocasião, precisa desse apelo emocional.  Depois do jogo com a Alemanha, o susto e tudo mais, correu-se para o abafa.  De um lado, grupos que sabiam estar perdendo dinheiro – Globo, Band, e outros – e que, apesar de serem contra o Governo, precisavam garantir patrocinadores e audiência, do outro lado, gente que temia pela reeleição de Dilma tentando igualar derrotas honrosas como as de 1950 e 1982 e isso que a gente está vendo aí. 


Essa coisa com a imprensa é particularmente irritante, porque tenta transformar resultados pífios, vexatórios até, em coisas “normais”.  O pessoal perde noção do ridículo, sabe?  É ridículo que se tente transformar o fiasco de um time de futebol no fiasco de uma nação, ou de um projeto político-partidário.  Cada coisa em seu lugar.  Mas é igualmente ridículo, por se assumir uma postura contra as manipulações da grande imprensa, ou ser a favor do Governo que aí está, tentar igualar as derrotas sofridas por seleções que se doavam pelo time ao que assistimos nos jogos contra Alemanha e Holanda.  Isso é manipular a História e macular o bom nome de gerações de jogadores que vestiram com honras a amarelinha.  Menos, pessoal!  

Futebol e política andam juntos e, sim, isso vai respingar no Governo, apesar da Copa em si ter sido um belo espetáculo, que não terminou ainda. No entanto, vamos separar um pouco as coisas e olhar para o fiasco dessa seleção, que jogou por terra o pouco de respeito que o mundo ainda tinha pelo futebol do nosso país, porque se não houver uma autocrítica vai ser ladeira abaixo e descobriremos que sempre há um fundo do poço mais fundo ainda para o futebol (masculino) brasileiro.  Não dá para engolir o papo de que foi mais uma derrota.  Felipão pode acreditar que 1X0 ou 7X1 são a mesma coisa, ou ainda que foi feito um grande trabalho e que os dois últimos jogos foram tropeços.  O restante de nós não deve ser tão ingênuo ou generoso.


Há quem comemore os resultados como uma chance de se livrar do discurso de “somos os melhores no futebol”.  Esse modo de pensar, garantiu durante muito tempo algumas das poucas alegrias de uma nação sofrida, serviu, também, de desculpa para que as verbas e atenções fossem quase todas para o futebol masculino.  Agora, que o futebol brasileiro virou piada, será que continuaremos a repetir a ladainha?

De qualquer forma, e isso nada tem a ver diretamente com esta seleção, e 3X0 seria OK contra a seleção holandesa se tivessem jogado de verdade, é que precisamos aprender a perder e valorizar outras colocações fora o primeiro lugar.  Ficar em primeiro, segundo, terceiro, em décimo, desde que fazendo o melhor é muito bom.  Reconhecer a evolução do país em um esporte – podemos ver isso no vôlei, vimos por algum tempo na ginástica – deveria ser incentivo.  Cobrar o ouro sempre, desmerecendo os esforços de atletas amadores é cruel, desrespeitoso, sintoma de baixa autoestima.  Espero que esse resultado da seleção masculina de futebol faça com que pensemos sobre isso.  De resto, três coisinhas:


Reconheço que a Holanda era um time superior e, apesar de ter sido segurado pela Austrália em um dos melhores jogos da Copa, fez por merecer.  Talvez, merecesse mais.    A Alemanha é a melhor seleção, fora isso, os jogadores do país derramam tanto cavalheirismo e simpatia que chega a ser constrangedor não torcer por eles.  Mas eu estou torcendo pela Argentina.  Motivo?  Força de vontade, raça e capacidade de transformar a adversidade – afinal, perderam um de seus melhores jogadores, reconhecem as limitações de seu time – é mérito.  Além disso, é revoltante a forma como a grande imprensa alimenta ódios entre brasileiros e argentinos sem nenhuma capacidade de imaginar que isso é ridículo e perigoso.

Outro ponto: pelo menos um castigo os jogadores da seleção brasileira terão: seu valor de mercado deve ter despencado ainda mais. Nada pior em um mundo capitalista, afinal, jogadores são commodities. Alguns terão que renegociar seus contratos pedindo muito menos do que gostariam.  E sendo bem escrota, agora, isso é muito bom para o Fluminense. Fred deve ficar e em um time arrumadinho, ele joga bem ou muito bem sempre.


E, por último, o governo estadual do Rio de Janeiro e Federal aproveitaram esse clima de luto e choque para prender ativistas potencialmente perigosos.  Sim, até algumas horas atrás dezessete pessoas, dentre eles dois menores, tinham sido presos, porque se suspeita de futuros crimes.  Medo de um protesto amanhã?  De qualquer forma, é um ato arbitrário comum em ditaduras, mas que jamais deveria aparecer em um contexto democrático.  Deveriam confiar que o choque não passou ainda e boa parte da população está tão anestesiada que é incapaz de protestar, seja de forma pacífica, ou não.

De resto, com todos os poréns, a Copa foi um espetáculo.  Daqui a pouco teremos três mulheres chefes de estado – Angela Merkel, Cristina Kirchner e Dilma – no lugar de honra.  Curioso, não?  Como feminista, eu vejo isso como muito importante.  O mundo, com todos os reveses, muda, se transformar.  Espero, sinceramente, que mude para algo mais igualitário, cordial, e aberto para as diferenças. Será que é possível isso?  Não sei, mas temos que trabalhar como se fosse.

P.S.: As charges do post são de Aroeira, um dos melhores chargistas brasileiros.  O melhor na minha opinião.



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