Vou abrir uma exceção e fazer um micropost comentando uma ceninha de Salve Jorge de ontem e sua repercussão. Estou assistindo a novela, devo acompanha-la até o fim. É mais uma variação do que Glória Perez já fez antes com algumas variações – uma quantidade muito bem-vinda de atores e atrizes negros, por exemplo –, ou seja, nada demais. O meu principal motivo para assistir é a subtrama do tráfico humano. (*Há outros, claro, não vou mentir: Rodrigo Lombardi, Murilo Rosa, Capitão Herculano, etc.*). Na verdade, o correto seria dizer tráfico de mulheres (*70% ou mais do todo*), já que nós somos a maioria das pessoas traficadas. Pois bem, a personagem de Carolina Dieckmann – que deve morrer nos próximos capítulos – vai para a Europa achando que iria trabalhar em uma pizzaria, ganhando em dólar (*não euros*) e comprar uma casa própria em um ano. Pausa para refletir sobre o quanto essa história é tolinha e sem noção. OK, voltemos.
A moça e outras que estavam com ela, chegam à Espanha, seus passaportes são confiscados e elas são levadas para um bordel. A tolinha da Carol Dieckmann diz que veio para trabalhar em uma pizzaria como atendente. Ensaia um escândalo, leva um tapão na cara do “funcionário” responsável e tem sua blusa rasgada por ele. Os seios da atriz ficaram expostos por, sei lá, uns dois segundos. Eu até comentei no Twitter que fazia tempo que não via seios (*ou bunda*) em novela das oito/nove. A classificação indicativa e a auto-regulamentação das emissoras tem optado por “coisas mais castas”. Meus alunos e alunas adolescentes não acreditam quando conto que depois da abolição da lei de censura em meados dos anos 1980, tínhamos seios e bundas em propagandas e filmes da Sessão da Tarde. Hoje, restou a violência...
Passei no Yahoo hoje e fiquei sabendo que a cena – de dois segundos, se muito – foi censurada no site da emissora. Quem não viu o capítulo, não terá acesso a essa cena imoral... Não porque a personagem apanha, mas porque seus mamilos aparecem. Os comentaristas pudicos do Yahoo acusam a autora de “apelação” e retomam o caso das fotos de Carolina Dieckmann, como se se desnudar para um trabalho fosse o mesmo que ter sua intimidade violada. No geral, temos uma grita moralista hipócrita e machista que expõe o quanto estamos andando para trás.
Glória Perez pegou leve. Mulheres traficadas são tratadas como escravas, aliás, a primeira cena com a (*intragável*) protagonista sendo vendida e o responsável dizendo “podem examinar a mercadoria!” e um homem a apalpando (*de leve*) só sugere o horror ao qual essas mulheres são submetidas. Se a Glória Perez quisesse poderia ir além, aliás, ela jamais poderia mostrar nem uma ínfima parte de toda a violência. O comum em um caso como o da personagem de Dieckmann seria ela levar uma surra e ser estuprada por vários funcionários para “aprender” a ser submissa e que esse seria o seu destino. Se não funcionasse, seria morta. Recomendo muito um filme russo depressivo chamado Lilya 4-Ever. Esse moralismo burro me embrulha o estômago... Sábado, comento a novela como um todo.