Faz quase duas semanas que estou para comentar essa pesquisa – na verdade, os resultados resumidos publicados em vários sites da internet – feita pelas linguistas Carmen Fought e Karen Eisenhauer. Independente dos resultados preliminares, as autoras estão preocupadas com o impacto dos filmes de princesas da Disney sobre as meninas, seu papel na construção dos papéis de gênero e como é importante desnaturalizar certos comportamentos. Eu estou usando como base as matérias do The Mary Sue, um site nerd feminista, do jornal The Whashington Post, que, a meu ver, detalha muito mais a pesquisa, e do USA Today, que tinha gráficos melhores, além de um site chamado Quartz.
As autoras apresentaram gráficos de dois aspectos dos filmes de Princesa da Disney, o primeiro é a quantidade de falas que as personagens femininas têm; o segundo, é o tipo de cumprimento que essas personagens recebem, se mais para a sua aparência, ou para suas habilidades. Elas dividiram os filmes em três Eras, a Clássica (Classic Era) começando com Branca de Neve, em 1937, e terminando com a Bela Adormecida em 1959; a Renascença (Renaissance Era), que inicia com A Pequena Sereia, em 1989, e segue até Mulan, em 1998, e a Nova Era (New Age) que começa com A Princesa e o Sapo, em 2009, e segue até os nossos dias com Frozen, em 2013.
Curiosamente, e isso é o que de mais significativo eu vi nessas matérias de divulgação da pesquisa, é que nos filmes clássicos havia maior equilíbrio na quantidade de falas de personagens masculinas e femininas. Olhem só, mulheres têm 50% das falas em Branca de Neve (*mesmo com SETE Anões como coadjuvantes*), 60% em Cinderella e 71% em A Bela Adormecida. Já, na Renascença, a desproporção é absurda. Homens falam 68% dos textos de A Pequena Sereia, 71% dos textos de A Bela e a Fera, 90% dos textos em Aladim, 76% dos textos de Pocahontas e 77% dos textos de Mulan.
As autoras apontam que essas coisas acontecem especialmente, porque todas as sidekicks e personagens de fundo com falas são homens. Se você coloca uma banca de verduras, o vendedor é um homem, por exemplo. Querem ver, se o sidekick de Mulan – o dragãozinho Mushu – fosse do sexo feminino, teríamos o problema desse filme resolvido. E tal persiste até nos desenhos mais modernos, basta pegar o elenco de qualquer filme da Nova Era que tem mais machos que fêmeas de qualquer espécie.
As autoras apontam que essas coisas acontecem especialmente, porque todas as sidekicks e personagens de fundo com falas são homens. Se você coloca uma banca de verduras, o vendedor é um homem, por exemplo. Querem ver, se o sidekick de Mulan – o dragãozinho Mushu – fosse do sexo feminino, teríamos o problema desse filme resolvido. E tal persiste até nos desenhos mais modernos, basta pegar o elenco de qualquer filme da Nova Era que tem mais machos que fêmeas de qualquer espécie.
Assim, a princesa está sempre cercada de homens, são eles que fazem tudo, eles são os poderosos, o interesse romântico, os bobões. Não há espaço para mulheres além dela mesma. Pegue A Bela e a Fera, fora Mrs. Potts (*a chaleira*), todos os utensílios com destaque na casa são homens. E tudo parece normal. Fora isso, e as matérias não tocaram nesse aspecto, nos desenhos da Renascença, salvo pela Pequena Sereia, todos os vilões são homens, e se contarmos os da Nova Era, a exceção é Rapunzel e, ainda assim, a quantidade de falas é femininas é de 52% somente.
Some-se a isso o fato das mães serem absolutamente ausentes, a quantidade de falas femininas é mínima. Mesmo em Frozen, com todo o seu suposto empoderamento, 59% das falas são masculinas, afinal, são Ana e Elsa cercadas de machos por todos os lados. Tal é muito chocante se pensarmos que em A Princesa Sapo a protagonista tem mãe e melhor amiga e, ainda assim, a maioria absoluta das falas é masculina. Exceção vai para Brave, com 74% de falas para as mulheres, mas, aí, é fácil entender, pois boa parte do filme é a interação entre mãe e filha, diálogos e discussões entre elas.
Some-se a isso o fato das mães serem absolutamente ausentes, a quantidade de falas femininas é mínima. Mesmo em Frozen, com todo o seu suposto empoderamento, 59% das falas são masculinas, afinal, são Ana e Elsa cercadas de machos por todos os lados. Tal é muito chocante se pensarmos que em A Princesa Sapo a protagonista tem mãe e melhor amiga e, ainda assim, a maioria absoluta das falas é masculina. Exceção vai para Brave, com 74% de falas para as mulheres, mas, aí, é fácil entender, pois boa parte do filme é a interação entre mãe e filha, diálogos e discussões entre elas.
Agora, minha crítica, vamos lá! Primeira coisa, Aladim não é filme de princesa. Ainda que se aplique nesse tipo de filme os princípios da falta de representatividade, o filme não se chama Jasmine, trata-se de um filme de herói e a personagem só é contada como princesa, porque, bem, a Disney precisa investir, mesmo que por linhas tortas em representatividade étnica. Esse furo foi tão grande que, a partir dele, poderia se tentar erodir toda a argumentação. Falando da Pequena Sereia, apesar do problema do elenco predominantemente masculino, é preciso dar um desconto, afinal, a protagonista, Ariel, está silenciosa durante boa parte do filme. Comparemos com A Bela Adormecida que tem a heroína, a rainha, as três fadas-tias e Malévola, é um elenco feminino amplo e com muitas falas.
Mulan, eu daria desconto, também, porque, bem, trata-se de uma heroína passando-se por homem e no meio da guerra, ainda que Mushu, o dragão, fosse menina... E A Bela e a Fera é isso, não é só “A Bela”, a Fera é co-protagonista e muito mais presente do que qualquer um dos príncipes antes e depois da Disney. Já os príncipes dos filmes clássicos, salvo Felipe, era meros “lugares”, a possibilidade de fuga para a princesa, sem grande importância ou falas significativas.
Agora, quando a gente entra no quesito elogio para a aparência ou para as habilidades ou feitos, os filmes clássicos são um horror. Em Branca de Neve, Cinderela e A Bela e a Fera 55% dos cumprimentos recebidos pelas personagens são ligados a sua aparência e somente 11% para habilidades ou feitos. Na Renascença, os cumprimentos pela aparência caem para 38% na média de todos os filmes e na Nova Era somente 22% dos cumprimentos estão ligados à aparência das personagens. Isso, sim, é um grande avanço.
Pensando no objetivo final, que seria discutir a influência desse tipo de representação da feminilidade e o impacto sobre as menininhas, eu realmente acredito que se elas são expostas a este tipo de material o tempo inteiro, chamadas de princesas regularmente, cercadas de todo tipo de estímulo a se preocupar com a aparência do que em brincar, correr, descobrir, se sujar, isso pode ter um efeito daninho sobre suas personalidades, sim. Mas é uma regra? É necessário jogar esse material todo fora? Acredito que, não.
Lembro de uma entrevista antiga com a Michelle Pfeiffer em que ela falava da preocupação que tinha com os papéis de gênero e o que era vendido nos filmes infantis, mas que não impedia a filha, acho que de três anos de assistir nada. Então ela comentou que assistiu A Pequena Sereia com sua filha e que a menina amou, mas ela fez questão de perguntar, mas você largaria tudo, sua família, seu mundo, seus poderes por um estranho? Talvez, eu não pergunta-se isso para a Júlia, sabe-se lá se a felicidade dela com o filme não seria ocasionada por outras coisas? Agora, eu faço questão de mostrar que meninas e meninos têm valor e podem fazer e ser o que quiserem (*ou pelo menos tentar*).
No momento, estamos aqui engajados, o pai e eu, que, ao contrário de um desenho besta que ela assistiu mostrou, as abelhas – e formigas, e cupins – soldados são meninas, assim como, as operárias e as rainhas e que, bem, a natureza é plural. Os filmes de princesa deveriam ser, também, claro, mas se o ambiente que oferecemos para a criança for saudável, acredito que o impacto negativo que alguns materiais podem ter – não que obrigatoriamente terão – poderá ser diminuído.