Ontem, assisti Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman vs Superman: Dawn of Justice) com meu marido. Como a única sessão legendada em horário acessível era 3D, então foi o que eu tive que encarar. Não sou fã do Super-Homem, muito menos do Batman, não tenho nenhum rasgo de paixão por eles, fora isso, as críticas – as que eu li, pelo menos – não tinham sido muito generosas com o filme, por conta disso, não esperava muito da película. O objetivo, a única coisa que me levou ao cinema, era mesmo ver a Mulher Maravilha e, bem, fiquei muito satisfeita com o pouco que Gal Gadot faz no filme. De resto, o filme é longo demais, tenta ser muita coisa ao mesmo tempo – bebendo de forma sucessiva e concomitante em diversas histórias clássicas – e carece de um roteiro coeso que faça jus à ansiedade em torno da produção. Ainda assim, ele consegue entreter, não emociona, mas não faz feio, por assim dizer.
Por pura preguiça e para evitar spoilers, segue o resumo do site Adoro Cinema: “O confronto entre Super-Homem (Henry Cavill) e Zod (Michael Shannon) em Metrópolis fez com que a população mundial se dividisse acerca da existência de extraterrestres na Terra. Enquanto muitos consideram o Super-Homem como um novo deus, há aqueles que consideram extremamente perigoso que haja um ser tão poderoso sem qualquer tipo de controle. Bruce Wayne (Ben Affleck) é um dos que acreditam nesta segunda hipótese. Sob o manto de um Batman violento e obcecado, ele investiga o laboratório de Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que descobriu uma pedra verde que consegue eliminar e enfraquecer os filhos de Krypton.”
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Para mim, os motivos do confronto entre os dois foram muito artificiais e forçados. |
Começo dizendo que não desgostei do filme, não o considero ruim, mas, sim, carente de um roteiro coeso e com algumas escolhas que não são lá muito convincentes. É filme de herói, eu sei, exige suspensão de descrença, sem dúvida, mas há momentos-chave que foram resolvidos de forma tão mágica e rápida que acaba fazendo com que a gente se lembre da mais superficial das historinhas, aquele tipo que se fazia na Era de Prata e que é bom deixar na Era de Prata.
Enfim, talvez eu tivesse sentido menos esses problemas se não houvesse assistido Mad Max no fim de semana. Até brinquei no Facebook que Mad Max não consegue cansar a gente mesmo não passando de uma grande perseguição de carros, enquanto Batman vs Superman parece não querer terminar nunca. Mesmo o espetacular confronto entre os heróis – Batman, Super-Homem e a Mulher Maravilha – e a ameaça final é meio que eclipsada pela longa seqüência seguinte, que termina sendo meio que anticlimática e, não, como parecia ser a idéia, tocante e cheia de significado para a audiência.
Enfim, talvez eu tivesse sentido menos esses problemas se não houvesse assistido Mad Max no fim de semana. Até brinquei no Facebook que Mad Max não consegue cansar a gente mesmo não passando de uma grande perseguição de carros, enquanto Batman vs Superman parece não querer terminar nunca. Mesmo o espetacular confronto entre os heróis – Batman, Super-Homem e a Mulher Maravilha – e a ameaça final é meio que eclipsada pela longa seqüência seguinte, que termina sendo meio que anticlimática e, não, como parecia ser a idéia, tocante e cheia de significado para a audiência.
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Bruce Wayne sempre depressivo e Alfred. |
O que me deixou encucada foi a questão do filme que a família Wayne assistiu antes da tragédia. Vejam bem, Batman se inspirou no Zorro, o filme que a família viu junta foi o primeiro do herói para o cinema, The Mark of Zorro (1920). Lá temos o paladino mascarado e a introdução do esconderijo do herói (*invenção de Douglas Fairbanks para o cinema, pois não existe no livro original*), algo que Wayne tomará como modelo. No filme atual, eles haviam assistido Excalibur (1981). Como o letreiro aparece de forma insistente, imagino que se trate de analogia com A Liga da Justiça, afinal, a idéia da Távola Redonda também é a de uma reunião de heróis com diversas origens e personalidades. Batman seria o Rei Arthur? Provavelmente.
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Lex "menino maluquinho" Luthor |
Sim, é isso que Batman vs Superman pretende ser, um filme sério. No entanto, a própria premissa do super-herói é muito exagerada e cheia de contradições que a idéia de seriedade se compromete por princípio. Super-Homem passou por várias transformações desde suas origens, surgiu com poderes muito mais limitados, ainda nos tempos da Grande Depressão para resolver as mazelas cotidianas e oferecer alento para seus leitores e leitoras. Mais tarde, encarnando o herói nacional, algo que tem ecos no filme, enfrenta ameaças cada vez maiores com seus poderes sendo ampliados na mesma medida. Depois, com o fim da Guerra Fria, tornou-se obsoleto e teve que ser repensado. Ainda assim, sofre com as seqüelas do bom mocismo que super-heróis mais contemporâneos tentam abandonar.
No filme, ele continua salvando mocinhas que estão em prédios pegando fogo no México e outras atividades muito aquém de suas competências. Ainda que o drama do filme seja a possível ameaça de um super ser das proporções do criptoniano, o Super-Homem poderia ser chamado de traidor simplesmente por não conseguir salvar todos as pessoas em apuros no mundo inteiro... ou simplesmente nos EUA. É muito complicado dar consistência a personagem se não se rompe com esse passado de escoteiro de vizinhança.
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Louis Lane é salva por Super-Homem. |
De resto, o filme pega pesado no terror em relação ao alienígena. Retomando o último filme do Homem de Aço – que eu não assisti, nem tenho intenção – a destruição causada pelo enfrentamento entre o Super-Homem e os inimigos criptonianos é mostrada por outro ângulo, o dos mortais que sofrem com a destruição do confronto entre super seres. É possível confiar em alguém com tantos poderes? Para o Batman, não é. E, a partir daí, se constrói o confronto entre os dois. Na verdade, o Super-Homem também não vê a encarnação do Homem-Morcego no filme como muito acolhedora. É uma criatura sombria e que usa de métodos que o Homem de Aço considera mais adequada aos vilões.
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A armadura do confronto com o Super-Homem. |
Enquanto Lex Luthor segue tentando destruir o Super-Homem, o Batman temendo o Homem de Aço e buscando meios de destruí-lo, e o Super-Homem salvando gente, investigando Wayne e namorando Louis Lane, Diana Prince desfila por vários lugares. Sim, Gal Gadot passa boa parte do filme usando belos vestidos que ressaltam a sua beleza. Como ela tem objetivos, que ficam claros mais lá adiante do filme, ela não é somente um adereço, mas, ainda assim, ela tem esta função. Algo que se anuncia no filme é uma mudança nas origens da heroína. Em seu filme solo, muito do que sabemos sobre a Mulher Maravilha será modificado, coisa que não acontece, por exemplo, nem com Batman, nem com Super-Homem.
Falando da participação da Mulher Maravilha em Batman vs Superman, motivo pelo qual fui ao cinema, aliás, ela é útil ao desenvolvimento da trama, apesar dos problemas de roteiro que deixam o filme um tanto descosturado. A participação da heroína na batalha final foi espetacular, por assim dizer, ela luta, ela usa suas armas ofensivas e defensivas (*braceletes, laço, escudo e espada*), ela é inteligente e, sim, como não poderia deixar de ser, ela é bonita o tempo inteiro. Não se trata de uma personagem fanservice, mas a Mulher Maravilha está no filme também para isso, para ser linda e atraente. Meu marido ficou reclamando que queria mais da Mulher Maravilha, que foi a personagem mais legal da película, e eu tive que insistir que o filme não era dela. Resultado? Ele terminou dizendo que se ela aparecesse mais roubaria o filme. Sim, exatamente isso.
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Diana Prince vestida para seduzir. |
Falando em bonito e atraente, a encarnação do Super-Homem de Henry Cavill se afasta de versões anteriores, e falo especificamente do lindo Christopher Reeve, que fazia um tipo tímido, comedido e nada ousado no terreno da sexualidade (*e, ainda assim, adorável*). O novo Super-Homem faz o tipo viril, que mostra de formas absolutamente indiscutíveis que deseja Louis Lane, e há fanservice dele. Sim, é fanservice mesmo, porque Clark não precisava entrar na banheira com Louis Lane, tampouco aparecer cozinhando só de cuequinha. São cenas que estão lá para enfeitar e mostrar a intimidade e parceria entre a personagem de Amy Adams e a de Henry Cavill. E digo logo que não estou reclamando do que foi oferecido, mas que não tem grande função narrativa mesmo.
Toda a tensão entre Batman e Super-Homem – tirada mal e mal de O Cavaleiro das Trevas – parece forçada, mas a luta final contra a grande ameaça é, sim, muito bem estruturada e emocionante. Só que veio depois de uma longa luta entre os protagonistas que termina se resolvendo de forma tão pueril que dá raiva. Pelo menos, a única piada que funciona no filme (*Luthor não me fez rir, ele me deixou sem saco*) está ali. Batman diz para a mãe de Clark Kent (Diane Lane) que é amigo de seu filho, ela responde que já sabe, que reconheceu pela capa. :D Como ninguém usa mais cueca por fora da calça, tem que ser pela capa mesmo. ^_^
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Agora me aborreci. |
Além de O Cavaleiro das Trevas, que é revisitado pelo roteiro do filme, mas que é muito superior à película, outra história, agora já clássica, serve ao roteiro: A Morte do Super-Homem. Sim, desculpem o spoiler, mas é isso. Trata-se de uma colcha de retalhos esse filme. Ele quer ser tudo ao mesmo tempo. Não se preocupa em contar as origens do Homem de Aço, porque funciona como continuação de seu último filme, mas conta as origens do Batman. No entanto, é um Batman passando por um reboot e se afastando da série com Christian Bale e de outras encarnações anteriores. Ao mesmo tempo, não conta uma história própria, precisa beber de forma desordenada nos clássicos. Fora isso, ele corre para apresentar os integrantes da Liga da Justiça, antecipando o próximo filme. Necessário? Acredito que não. Um roteiro mais enxuto, quase que totalmente novo, poderia ter tornado o filme melhor e, talvez, um grande marco do seu gênero.
Falando da Bechdel Rule, o filme, se bem me lembro, não consegue cumpri-la, porque as personagens femininas não conversam entre si, quando duas delas o fazem é sobre o Super-Homem. Ainda assim, ele se sai bem e tem uma forte e importante participação feminina. Querem ver? Apesar de algumas cenas meio que deploráveis com Louis Lane, que ressaltam seu lado donzela em perigo, sua primeira aparição é marcada por uma atitude afirmativa “eu não sou uma dama, sou uma jornalista”, mostrando bem sua atitude profissional diante de um comentário sexista. Temos a mãe de Clark/Super-Homem com algum destaque na trama, é uma mulher ativa e um apoio seguro para o filho. Função materna, eu sei, mas ela poderia ser uma mãe apagada e ela não é.
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Amy Adams é adorável e competente em todos os papéis. |
Outras mulheres no filme, todas com nome e falas são a senadora June Finch interpretada por Holly Hunter, uma coadjuvante importante boa parte do filme, ainda que seu papel seja chatinho, chatinho e Mercy Graves (Tao Okamoto), a assistente de Luthor, que passa uma imagem de profissionalismo apesar da curta participação. E há a Mulher Maravilha que se projeta como uma personagem forte e convincente. Para um filme centrado em dois super-heróis, a DC não fez feio, não. Aliás, superou a concorrente nesse aspecto, mas somente neste aspecto, que fique claro.
Antes que eu me esqueça, uma das coisas que me deu mais prazer no filme foi a pequena e charmosa participação de Jeremy Irons como o Alfred. Mistura de ama seca, mordomo, pai postiço e, na falta de um Robin, sidekick, ele foi o braço direito do Homem Morcego durante todo o filme. Fora isso, ainda despejou ironia e elegância. Cada aparição de Alfred é um presente. E vamos combinar, também, que o Bem Affleck defendeu o Batman muito bem. Há quem não goste dele, eu passei a respeitá-lo depois de Argo, mas ele foi um Batman muito bom, especialmente, se levarmos em consideração que Christian Bale, seu antecessor, deu ao Batman uma grandeza que ele nunca tivera antes no cinema. Não, amiguinhos, não dá para comparar com Michael Keaton, Val Kilmer ou mesmo George Clooney, a personagem agora está em outro nível. E não preciso ser fã de Batman para escrever isso.
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Os três icônicos em um único filme. |
Finalizando, Batman vs Superman não é um grande filme, não me levaria ao cinema de novo, como no caso do primeiro Vingadores, mas consegue, mesmo com seus defeitos, receber três estrelinhas e meia. A participação da Mulher Maravilha foi importante de verdade e fez toda diferença para o desfecho do filme. Só isso já é fantástico. De bônus, o uniforme dela ficou visualmente perfeito. Estava com medo. E, sim, todos os atores e atrizes se assenhoraram de seus papéis e são convincentes. Agora, é esperar que o filme da Mulher Maravilha e da Liga da Justiça consigam ter roteiros mais consistentes e não tentem abraçar o mundo com as pernas. E, no fim das contas, o que importa para o público nessa disputa entre DC e Marvel é que ambas ofereçam o melhor de seus heróis em seus filmes. Agora, é esperar pelos outros lançamentos do ano.
P.S.1: Cuidado, SPOILER: Meu marido veio aqui me perguntar se eu não ia falar da cena da bomba. Enfim, ele está reclamando desde a sala de cinema que o fato do Super-Homem não ter salvo ninguém, ou tirado o homem bomba da sala foi uma grande inconsistência. Com super audição (*que funciona bem demais em vários momentos*) e super velocidade foi forçado que ele não tenha conseguido dar conta do problema. Como pontuei, há vários problemas de roteiro e o filme força a barra em muitos momentos para justificar o terror de parte da população em relação ao Homem de Aço.
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Os braceletes estão muito poderosos no filme. |
P.S.2: Coloquei a resenha de Batman vs Superman na frente de Mad Max e Zootopia, porque corria o risco de eu esquecer de boa parte do filme e lembrar só da Mulher Maravilha e do Jeremy Irons. Espero fazer as outras resenhas até domingo.
P.S.3: Estava na sala XD do Cinemark do Pier 21. Enfim, Havia cadeiras que tremiam, mas eu não estava em uma delas, ainda assim sentia a vibração quando elas tremiam. Ou será que a sala tremia? Isso, junto com o 3D, tornou a sessão um pouco desconfortável enquanto não me acostumava. Eu prefiro sessão normal, meu problema de visão me obriga a ficar com o óculos regular e o 3D, então, acaba não sendo muito legal mesmo. Treme-treme complica ainda mais as coisas.
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Quero mais Mulher Maravilha. |
P.S.4: A primeira personagem justiceira com identidade secreta foi criação de uma mulher, a Baronesa Orczy, e se chama Scarlet Pimpernel. A identidade secreta da personagem que atormentava os jacobinos na época da Revolução Francesa, era Sir Percy, um lorde fashionista, riquíssimo, preguiçoso e um tanto afeminado. Don Diego, de O Zorro, vai na mesma linha. Já Bruce Wayne faz mais o estilo playboy e, acredito que para satisfazer os fãs, tornou-se mulherengo, também. Há uma cena de Batman vs Superman em que uma mulher sem rosto (*pra quê, não é?*) aparece na cama de Wayne em uma cena rápida só para nos lembrar disso.