Quantcast
Channel: Shoujo Café
Viewing all articles
Browse latest Browse all 7517

A Riri Williams de J. Scott Campbell ou "Vocês estão chateadas que ninguém as está sexualizando?"

$
0
0

Parecendo uma garota descolada de 15 anos.
Semana passada o site The Mary Sue publicou a seguinte matéria “Dear Marvel: Stop Sexualizing Female Teenage Characters Like Riri Williams. Love, Everyone” (Cara Marvel, pare de sexualizar personagens adolescentes como Riri Willians.  Com amor, todo mundo).  O cerne da matéria é a recorrência na representação de meninas adolescentes com roupas e poses sensuais, reduzindo-as à objeto sexual, e, muitas vezes, fazendo-as parecer mais velhas do que são.  Na verdade, eu nem sabia que Riri Williams tinha somente 15 anos e a capa de J. Scott Campbell não ajudou em nada, claro.  Eu achava que era uma mulher adulta, jovem, mas adulta.


A capa da discórdia.
Enfim, quem é Riri Williams?  Não comentei nada sobre a controvérsia em torno da nova "homem de ferro", que agora eu sei que só tem 15 anos, mas que, além disso, é uma garota brilhante que cursa o MIT, porque, bem, não vou fingir para vocês que me importo muito com o que acontece nos comics, em especial nas revistas de super-heróis.  Agora, com questões de gênero, eu me preocupo, então, é por este motivo o post. 


Outra variante da capa da edição nº1.
Eu  gostei dessa, mas ainda me parece uma mulher adulta.
Eu tenho muita preguiça com quadrinho americano, tenho mesmo, detesto essa história de ficarem passando personagens de mão em mão, as  criações bombásticas que são mero golpe comercial, ainda que eu entenda a questão da representatividade seja importante ao extremo. Riri Williams é negra e sabemos muito bem o quanto meninas precisam de heroínas que as representem, e se você não é branca, mais ainda.  Não sabemos quanto tempo Riri Williams será Iron Heart, mas o fato é que ela será o novo Homem de Ferro por algum tempo.
Gunbuster é ótimo, mas esse uniforme de piloto aí...
A questão toda é que muitos desenhistas não se preocupam em desenhar meninas adolescentes como adolescentes e, claro, isso não ajuda a torná-las personagens críveis, humanas, mas reforça a idéia de que essas  meninas ficcionais existem para alimentar os desejos masculinos.  Na verdade, elas são a representação dessas fantasias: seminuas, esculturais, aparentemente disponíveis e jovens (*inexperientes sexualmente, provavelmente*).  Isso é recorrente nos EUA, é recorrente no Japão, a diferença é que no primeiro as personagens devem parecer mais velhas, enquanto, no segundo, o ideal é que pareçam e sejam jovens, mas não tanto, há limites...
Khamala Khan, nadando contra a maré.
O problema não é a capa de Campbell, mas uma constante na representação de meninas adolescentes.  Retirar a capa de circulação (*e a tal capa da discórdia era edição limitadíssima*) é interessante,  mas o fato de não pararem para pensar que ela não é aceitável, ou não deveria ser, que é prejudicial à imagem da própria personagem e que não ajuda no empoderamento das meninas é que deveria ser o X da questão. Ooops!  Mas será que esses caras sabem que as meninas são leitoras?  Que as mulheres são leitoras?  Nos EUA, infelizmente, acho que muita gente ainda duvida, ou não descobriu que há um público leitor feminino e que personagens como Riri não existem simplesmente para o deleite de punheteiros.


Dust: é possível sensualizar até uma adolescente com niqab.

De resto, o que me motivou a escrever este post foi o fato de ter recebido um comentário de um americano quando postei o link do The Mary Sue no Twitter.  O distinto cidadão escreveu “Are you upset that no one is sexualizing you?” (*Vocês estão chateadas que ninguém as está sexualizando?).   O comentário, partido de um desconhecido, aponta algumas coisas.  Primeiro, os caras acham que podem (*tentar*) intimidar mulheres gratuitamente na internet.  Normal, há caras que curtem passar o tempo assediando mulheres e agredindo com mais empenho as feministas.  De minha parte, um block resolve.
A  mensagem do bully do twitter.
Segundo, ele realmente deve acreditar que quando apontamos alguma impropriedade ou problematizamos  na representação da figura feminina, estamos simplesmente com inveja.   Afinal, o que toda mulher – qualquer mulher, já que somos todas iguais – deseja?  Ser objetificada e sexualizada, porque, bem, sem o desejo masculino – e vale qualquer homem – nossa vida é uma merda.  Desculpem, esta é a melhor palavrinha aqui.


Nem queiram saber o que penso quando olho essa imagem.
Esse sujeito não tem nenhuma idéia de quão múltiplas são as mulheres, de que somos seres humanos complexos.  Para ele, somos como a capa do Campbell, ou deveríamos ser: belas, sensuais, disponíveis.  OK, espero que a vida o ensine, porque, bem, a feminista aqui não tem tempo para perder com ele.  De resto, continuo na dúvida se é de propósito, ou a maioria desses desenhistas não sabe desenhar adolescentes.  Vide aí a imagem acima de Orgulho & Preconceito da própria Marvel.  As moças, a mais velha com 22 e a mais nova com 15, parecem tudo, menos adolescentes e jovens mulheres.  Nem acho adequado escrever o que eu penso quando olho essa imagem.  De resto, espero que Riri Williams seja um sucesso e suas histórias possam ser tão interessantes para o público feminino quanto as da nova Ms. Marvel. 


Viewing all articles
Browse latest Browse all 7517


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>