Quantcast
Channel: Shoujo Café
Viewing all articles
Browse latest Browse all 7620

Algumas Palavrinhas Atrasadas sobre a Final do Master Chef Profissionais

$
0
0

Sei que este post está bem fora do timing, mas só terminei de assistir ao Master Chef Profissionais hoje. Não tive como ver em casa, comecei a ver a segunda temporada (*por sugestão da amiga Érika*), acabei viajando, e tive que pedir para meu marido baixar na casa do irmão dele, porque a conexão na casa dos meus pais funciona precariamente. Enfim, mas a vantagem de analisar depois é que as coisas estão frias e é possível ter um afastamento crítico que, talvez, no calor do momento, eu não tivesse. Seguem alguns pontos, serão poucos:

Disse no meu primeiro (*e único*) texto sobre o Master Chef Profissionais e repito, qualquer um dos dois – Marcelo e Dayse – poderia ter ganhado. Observando a análise dos juízes, e somente isso mesmo, já que eu não comi nada, tampouco teria capacidade para avaliar, ambos os competidores eram muito competentes e tiveram um desempenho marcadamente superior ao longo do programa.

Qualquer um dos dois poderia vencer.
Marcelo começou com o pé esquerdo, se destacou em provas individuais e, via de regra, se saiu mal ao trabalhar em grupo. Ele parecia ter um quê de gênio e, bem, quando você é deveras inteligente, criativo, whatever, você tende a ter dificuldades para trabalhar com outras pessoas. Só que cozinha profissional é trabalho em grupo, também. Talvez, no Master Chef comum, ele não conseguisse sobreviver até o fim, mas no formato profissionais, ele teve espaço para mostrar sua competência e colheu elogios por sua ousadia. Era um sujeito egocêntrico, talvez mimado, humilde da boca para fora, PORÉM não é isso que o Master Chef avalia, como bem a Paola colocou no seu supostamente polêmico discurso final.

Agora, Marcelo pode ser o que for, e a gente não pode, também, descartar as questões de edição que ajudam a criar personagens (*e acho que nos três programas finais o Marcelo meio que embarcou na caracterização do menino maluquinho meio peverso*), mas ele não se recusou a emprestar produtos para a Dayse na final. Ele poderia negar, ou ignorar, mas, mesmo com as deficiência de personalidade, ele ajudou. Outra coisa, li gente falando que ela não apertou a mão da Dayse. Ele apertou. Foi seco, foi de má vontade, mas ele não virou as costas e foi embora. Independentemente do que ele tenha dito depois, diante das câmeras, ele se conteve, mesmo se vendo como melhor o tempo inteiro. Dario me pareceu muito mais infantil (*e menos brilhante*) que o Marcelo.

Dario começou bem e terminou se comportando como um moleque bobão.
A Dayse, e eu torci por ela a partir do quarto final do reality show, foi subestimada por praticamente todos os concorrentes. E repito que não foi somente machismo, o que já não seria pouco, mas era preconceito de classe. Dayse parecia ser a mais pobre e menos refinada dos competidores. Salvo o Ivo, claro, mas ele tinha nome e os jurados ficavam cheios de dedos com ele, afinal, ele era quase um igual. Paola mesmo evidenciou em uma prova com ingredientes refinados que o perfil da Dayse era outro. Bem, que outro? Percebem o classismo?

Eu que já ouvi coisas como “Calada, ninguém da nada por você” ou “Não imaginava que você tivesse um currículo tão bom”, sabe o que é ser tratada como alguém que não merecesse estar em um determinado espaço. No meu caso, o acadêmico, ou uma instituição de ensino de elite. A Dayse era desqualificada o tempo inteiro e o que chocou muita gente foi ver os “brothers” – Ivo, Dario, Marcelo – literalmente a ignorando. Fádia, por quem eu torci até que ela mostrou esta faceta, teve uma prova de eliminação inteira telegrafada do mezanino pelo Dario e, ainda assim, se achava melhor que a Dayse.

Izabela, uma das primeiras a apontar o machismo no mundo da alta gastronomia.
E citei uma mulher, porque quero reforçar que o machismo foi só parte do problema. E chegamos ao discurso final da Ana Paula Padrão e da Paola Carosella. A chef, principalmente, foi acusada de ter abraçado um discurso feminista e prejudicado o Marcelo com suas notas. Primeira coisa, ele não perdeu por causa das notas dela. Houve uma curva bem definida com a Dayse sendo melhor no início e no final e Marcelo se saindo muito bem nos pratos principais. Simplesmente, a conta não fechou para ele. Bem, ela foi a única a dar notas 10 e, se bem estive atenta, foram duas, ambas para o Marcelo. Obviamente, parece estranho que alguém que se rasga em elogios dê nota 2 ou 4.

Eu sou professora e se eu elogio um trabalho, ou prova, é porque a vale entre 9 e 10. Ela deu um quatro para a Dayse, também. Agora, vou tentar analisar usando minha referência como professora. Já tive que tirar ponto de trabalhos excelentes, porque ficou faltando alguma coisa formal. Exemplo, era necessário colocar bibliografia. O grupo, ou o aluno/a, fizeram um texto estupendo, que eu sabia ser deles, mas esqueceram a tal bibliografia, ou outro aspecto formal. Perderam pontos, mas nunca seriam tantos, tipo, iria ser um 10 e ficou com 9 ou 8,5. O problema é que a Paola se rasgou em elogios para todos os pratos do Marcelo e as notas não acompanharam. Só que, como escrevi, ele não perdeu por causa disso. As notas dela nunca destoaram tanto da dos outros juízes.

Algumas notas de Paola foram realmente esquisitas.
Quanto ao discurso, tanto da Ana Paula, quanto da Paola, em que ele mentiu? Em ambientes profissionais dominados por homens, as mulheres são subestimadas, excluídas, às vezes, protegidas (*porque são fracas, menos capazes, podem chorar etc.*) e tem sua progressão profissional muitas vezes obliterada por serem exatamente isso, mulheres. A apresentadora do Hell's Kitchen, programa parecido com o Master Chef do SBT, disse coisas semelhantes e contou umas histórias cabeludas.  

Voltando ao Master Chef Profissionais, durante o programa ficou evidente o machismo de alguns competidores. E o Ivo foi terrível no primeiro capítulo com a terceira eliminada, Izadora Dantas, foi em outro episódio igualmente machista com a Pryscila (*e se desculpou*) e com a Dayse sempre que pode. Todo mundo viu a broderagem acintosa do Dario e do Marcelo e a Dayse acabou angariando simpatia, mas ela não ganhou por causa disso, ganhou por ter sido competente, constante e tido um bom desempenho na final. Foi isso que a Paola comentou e foi lindo.

Até o final, boa parte dos coleguinhas estava contra a Dayse.
Ah, mas a Dayse desconversou sobre o machismo na cozinha, disse que ganhou por ser ogra e que não é feminista. Bem, bem, problema dela. O fato dela negar, ou tentar contemporizar, ou não acreditar, não elimina o que está dado, visto e reconhecido, e o que a Paola fez foi isso. É comum que mulheres que trabalham em ambientes masculinos e são bem sucedidas tentem “fazer parte do grupo”, “ser mais um dos caras”. Elas precisam ser cascudas, muitas vezes justificar a sua posição pela competência (*que existe, claro*) e por não serem “mulherzinhas”. Se chegaram lá, chegaram pelo seu esforço (*também*) e se outras não chegaram é culpa delas.

Para quem pensa assim, espero que a ficha caia um dia. Se resto, este Master Chef foi bem instrutivo para que as pessoas pudessem refletir sobre o machismo estrutural, a exclusão das mulheres, o preconceito de classe, enfim, um monte de coisas feias que prejudicam principalmente as mulheres, mas, também os homens. Para muita gente, foi uma final feminista.  Que seja!  De resto, agora viciei nesse programa e adoro os juízes e a Ana Paula Padrão. Vou ver o barraco, quer dizer, reunião, dos participantes assim que puder.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 7620

Trending Articles



<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>