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Comentando La La Land - Cantando as Estações (La La Land, 2016)

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Sexta-feira assisti La La Land - Cantando as Estações, um dos filmes queridinhos de 2016 e um dos favoritos aos prêmios Oscar. No geral, gostei. Belas músicas, algumas sequências muito lindas de dança, fotografia e direção de arte competentes, figurino inspirado e dois protagonistas, Emma Stone e Ryan Gosling, formando um casal fofinho. Entendo, portanto, todos os elogios, porém, houve algo que me incomodou, mas é spoiler, então, se você assistiu ao filme, ou não se importa com essas coisas, siga para depois do trailer.

La La Land conta a história de Sebastian Wilder (Ryan Gosling), um pianista apaixonado por Jazz, e Mia Dolan (Emma Stone), uma jovem garçonete aspirante à atriz. Eles se encontram pela primeira vez em um engarrafamento e voltam a se esbarrar na cidade de Los Angeles. Depois de algumas coincidências e uma ida frustrada ao cinema, eles começam um relacionamento, se apoiam mutuamente, e terminam, de certa forma, conseguindo realizar seus sonhos profissionais.


La La Land é um musical e acertou em cheio nas músicas e coreografias. Pronto, meio caminho andado!  Desde a absurda e deliciosa abertura no engarrafamento até as singelas sequências de dança de Gosling e Stone. Difícil saber qual a mais bonita e romântica, aliás. Talvez a do observatório Griffith, mas é somente um talvez, porque achei todos os duetos adoráveis. A inspiração do filme – e todo mundo já pontuou isso – é nos musicais clássicos das décadas de 1940-50. Como ponto de partida, eles se prestam bem e os duetos servem como bela homenagem, ainda que não tenhamos Fred Astaire e Ginger Rogers em tela.

O próprio diretor, Damien Chazelle, falou desse olhar para o passado em uma entrevista"Ryan e Emma combinam o que eu precisava para o filme: carisma à moda antiga e poder da fama. Eles poderiam estar em qualquer musical de 50 anos atrás, mas também são facilmente identificáveis como pessoas modernas"e, mais adiante"Foi divertido, mas tecnicamente muito difícil", conta o diretor, que não usou nenhum efeito especial e decidiu não quebrar os números com diversas câmeras. "Tudo foi ensaiado à exaustão e a câmera faz parte da coreografia musical. Queria que 'La La Land' trouxesse o espírito dos filmes de Ginger Rogers e Fred Astaire".


Ele consegue, claro, mas, ainda assim, é uma homenagem pálida, abaixo da média do que se fazia na época de ouro dos musicais e bem abaixo, eu diria, dos musicais icônicos do período. Saudosismo é algo típico de tempos de crise, aliás. Há meio que no ar a idéia de paraíso perdido, de que antes éramos mais felizes. Sebastian, o pianista, encarna bem esses ideais, sem que, contudo, o filme se agarre à valores muito conservadores.  De qualquer forma, eu tenho receio de uma nova leva de filmes nostálgicos como forma de fugir da realidade.  No caso dos americanos, de Donald Trump.

O miolo do filme, que o crítico da Folha de SP quase classificou de barriga, não é chato ou vazio, mas é carente de músicas. Há muitas músicas no início, o meio é quase desprovido de números musicais e o final os retoma, de certa forma.  Daí, La La Land periga virar um filme comum, uma dramédia – porque há drama e comédia – romântica como outra qualquer. E chego ao ponto que me incomodou, o roteiro deixa e desejar.  O motivo não é, a meu ver, falta de tramas secundárias, mas de uma narrativa mais robusta. Não queria uma grande história, mas que me convencessem de algumas questões importantes. E a culpa não é do fato de ser um musical, é do roteiro.


A vida separa e a vida une pessoas. Sonhos nos jogam para frente, verdade, mas podem, sim, colocar em evidência características negativas de nossa personalidade, como o egoísmo, a obstinação, a intransigência, mas é preciso mostrar essas coisas na tela. La La Land falhou comigo – e minha amiga que estava comigo ficou profundamente indignada – porque não me ofereceu motivos, justificativas fortes o suficiente para me convencer do desfecho do filme. Não foi como em Casablanca, por exemplo, ou em Estranha Passageira (Now, Voyager), só para citar dois filmes românticos clássicos. E fui buscar exemplos distantes talvez para dificultar a compreensão do spoiler. Fiquei frustrada mesmo.

Enfim, o diretor de Whiplash, que eu não assisti até hoje, coloca em tela novamente o seu amor pelo Jazz e, talvez, o seu desprezo pela música eletrônica. A personagem de Gosling é um purista e eu tendo a odiar essas criaturas que acham que existe uma origem pura a ser perseguida ou mantida de qualquer coisa, como se não houvesse mudança, como se as coisas - música, doutrina religiosa, arte, língua, whatever - fossem imunes ao tempo. Pior ainda, como se a maioria dos movimentos tivessem uma origem única.  É criar dogma, um discurso fundador, tradições onde não existem e  fechar os olhos à realidade.  E nem preciso ser especialista em Jazz para escrever isso.


A personagem de Sebastian quer tocar os clássicos como os grandes nomes que lançaram as bases do movimento, ele os venera. Ele olha para o passado e despreza aquilo que parece moderno, vulgar. Usei a palavra “vulgar”, porque nos seus primórdios o Jazz era uma música popular, a elitização veio depois. Parece que Sebastian abomina a vulgarização, a tentativa de, com o intuito de tornar o Jazz mais palatável,  torná-lo cada vez mais raso, sem a profundidade melódica de outras épocas.  O filme aponta, também, para o envelhecimento do público amante de Jazz e Sebastian insiste que as pessoas não conhecem Jazz de verdade. Mia exposta ao gosto refinado do namorado, passa a amar o Jazz que ele lhe apresenta.

Para Mia de antes, Jazz era aquilo que Kenny G tocava. E quem foi adolescente nos anos 1980/90 sabe de quem estou falando. Qualquer festa de 15 anos ou casamento tinha Kenny G. Com o tempo, a gente passou a considerar tudo isso muito cafona, por assim dizer.  E falando em anos 1980, uma das melhores sequências é exatamente aquela em que o pobre Sebastian, constrangido, precisa fazer um bico em uma banda cover dos anos 1980. Posteriormente, ele acaba cedendo – contas, possibilidade de juntar dinheiro para recuperar o seu night club – ele se junta a um conjunto que deseja popularizar o Jazz entre as novas gerações. Ele, um conservador, se sente humilhado e violentado. Mas ser adulto não é isso, sacrificar seus sonhos em prol de algo maior, enriquecer?



Se Sebastian é um romântico à moda antiga, Mia é uma personagem mais moderna e bem mais clichê e escalarem Emma Stone fez muito bem para a personagem, porque lhe trouxe frescor, vivacidade e simpatia. Uma atriz menos competente poderia ter um efeito contrário, isto é, expor a fragilidade da personagem lugar comum.  Afinal, quem nunca viu em filme ou seriado (*Penny, estou falando de você!*) uma garçonete que deseja ser atriz? Uma mocinha interiorana (*Olá, outro clichê!*) que, para completar, é ignorante de muita coisa, pouco refinada, mas sensível, cheia de determinação, amor pela vida e sonhos? E usei o ignorante, porque, apesar de Mia morar na frente da biblioteca e dizer que ia ver filmes clássicos com a tia, atriz, a maior influência em sua vida, ela nunca tinha visto Rebelde sem Causa. Filme que se presta a aproximar os protagonistas. Se vocês perceberem, na sala só há velhos, o casal são os únicos jovens.

Não estou falando que Mia seja rasa, ou idiota. Ela não é, mas seu ponto de partida é lugar comum absoluto. Fora isso, pelo menos um grande clichê de gênero, uma piada machista, foi usado de forma irritante: mulheres e carros não combinam muito bem. Primeiro, temos a distração de Mia no engarrafamento, logo na abertura do filme. Mais adiante, Mia tem o carro rebocado (*e encontra Sebastian*), porque ela e as amigas estacionaram em lugar proibido. Mais adiante, e trata-se de uma das sequências mais importantes do filme, temos uma situação bonitinha, que termina em música e dança, e que serve para diluir o fato de nos estarem mostrando que, bem, mulheres não tem senso de localização. Mia perde o carro, não sabe onde estacionou. Super comum isso, mulheres são assim mesmo, não é?


Sebastian, um quase desconhecido com quem ela tinha tido mais de um problema, a ajuda a encontrá-lo, eles andam muito, sobem uma rua, ele pontua o quanto os sapatos dela – de salto altíssimo – devem ser desconfortáveis. Ela tem um par de sapatos confortáveis na bolsa, mas só faz a troca quando já subiu a morrada toda, afinal, ninguém na festa pode vê-la descomposta, é o que eu deduzo. Eles acham o carro, claro, mas o cavalheiro mente que o seu automóvel está perto, quando, na verdade, estava bem em frente à festa. Que bom que, nesses momentos de crise, temos um homem por perto, não é mesmo?


Já  que estamos falando em Mia, vamos para outro ponto alto de La La Land é o figurino, que se remete, também, ao passado. A protagonista, por exemplo, tem um figurino que trafega por várias décadas, dos anos 1950 aos 60. Ela só é vista de calças uma vez, em uma cena em casa, mergulhada na frustração de mais um testa infrutífero. É um moletom velho. De resto, ela aparece sempre com saias ou vestidos. E o amarelo é uma cor em destaque. Na sequência de abertura temos pelo menos duas mulheres com vestidos amarelos, Stone aparece com mais um outro (*que ilustra boa parte das propagandas do filme*) e, bem, a cor é a mais forte da paleta do filme, ou assim, me pareceu.

Eu gostei da dinâmica do casal, da forma como um e outro colaboram para que atinjam seus sonhos. Mia não é uma musa de Sebastian, ela é uma parceira, ela sequer consegue demovê-lo de sua obsessão pelo night club perdido. Mesmo os conflitos entre os dois por conta da carreira de Sebastian no grupo de Jazz para a juventude, foi coerente, mas as lacunas do filme foram angustiantes, não instigantes. Por exemplo, fiquei o filme inteiro esperando que o sócio de Sebastian, o que supostamente lhe roubou o night club dele e o transformou em um clube de samba e tapas, iria aparecer para que tivéssemos um desfecho para o conflito, mesmo que ele fosse desfavorável ao protagonista. E nada. Enfim, podem dar mil prêmios para La La Land, mas roteiro e melhor filme não merece, não.


O filme cumpre a Bechdel Rule? Mia tem uma conversa e canta com as amigas. Elas todas têm nomes, a conversa não é sobre um homem. Cumprida a regra.  A irmã de Sebastian também tem nome, também. Há outras mulheres com nomes e breves conversas com Mia sobre coisas variadas. O filme é feminista? Não. Terrivelmente machista? Também, não, salvo se você centrar toda a carga em certos aspectos – a questão do mulher e carro, por exemplo – e esquecer o resto, inclusive que Mia sonha com uma carreira, sonha com ela. Agora, as personagens mais relevantes do filme estão atreladas aos papéis tradicionais – namorada, esposa, mãe, irmã – ainda que tenham outras atribuições.  Mas é um belo filme, com dois protagonistas simpáticos, com um elenco marcado pela diversidade, ainda que o par principal seja branco.


Repensando o filme, porém, cheguei à conclusão de que o filme é não sobre sonhos, ou sobre Mia e Sebastian, mas sobre ele. Sua relação com o Jazz, com a namorada, com suas ambições, como ele perde coisas importantes para ganhar outras, como ele vê o mundo, como ele se arrepende... Talvez?  Bem, no fim do filme só há uma cena de sonho e o sonho é de Sebastian, de Mia, nada sabemos.  Os olhos expressivos de Emma Stone nos permitem somente saber que ela sente, que talvez sofra, que tenha alguma ponta de arrependimento, mas o que vemos são os sentimentos da personagem de Gosling, o filme se torna dele. Vale assistir La La Land? Sim. Ele me marcou ou emocionou?  Não.  Veria de novo?  Todos os duetos, mil vezes, mas ao filme, provavelmente, não.



Você está aqui, logo, viu o filme ou não se importa com spoilers.  Enfim, Sebastian e Mia não terminam juntos.  Tenho problema com isso? Não.  Alguns dos meus filmes favoritos não tem o tradicional "e viveram felizes para sempre".  Casablancaé um deles.  E o Vento Levoué outro.  Hollywood, aliás, não gosta de separar os amantes.  Em filmes mais recentes, então... O meu problema com La La Land é que não me deram ummmotivo forte para acreditar que Mia e Sebastian tiveram motivos para se separar.

Eles tiveram um desentendimento, Mia via a infelicidade do amado em tocar um tipo de música que odiava. Ele interpretou como inveja e frustração da parte dela, afinal m ela não tinha mais motivos para sentir pena dele. Ela estava insegura sobre sua própria situação profissional, a eterna tentativa e fracasso. Os dois se distanciam e ela parte, de volta para o interior, a segurança da família.  Mas as coisas mudam, eles se reencontram, ele a ajuda a encontrar o seu caminho.  Ela terá que passar 4 meses na Europa. Eles juram amor eterno,  entea um letreiramento "5 anos" e eles estão separados. Mia é uma ateiz de sucesso, tem uma filhinha e um marido chique genérico.  Como assim????? 


Minha amiga começou a reclamar. Isso é um filme que ela está fazendo! É sonho! Não,  foi somente uma idéia ruim, a começar pelo letreiramento. Repito, eles poderiam ter separado os protagoniatas, mas não dessa forma. Quem foi o responsável? Sebastian a abandonou? O night club primeiro? Mia deixou o sucesso subir à cabeça? Nenhuma explicação,  somente a certeza de que eles ainda se amam...

Em Café Society, que tem um casal muito sem sal, amocinha troca o moço pobre pelo tio rico, apesar de dizer que não pensava em dinheiro. Em Nosso Amor de Ontem (The Way We Were),  a personagem de Barbra Streiisand não deixa de amar a de Robert Redford, mas não queria abandonar a militância política,  nem servir de motivo para que a carreira do amado fosse prejudicada. Eles terminam separados.  São muitos exemplos, poderia pensar em outros, filmes que até não são tão bons como La La Land, mas não aprontam essas coisas com a gente.


No fim das cobtas, o que acabou ficando de La La Land doram as músicas e os belos duetos. O romance se esvaziou com um desfecho infeliz,  mal explicado. Eu namorei pela internet, à distância,  mais de um ano, marquei casamento no cartório com procuração. O que são 4 meses para um casal que se ama, que tem condições de pefar um avião?  Houve uma sugestão- pelo sobho de Sebastian - que ele talvez tenha sido egoísta,  mas foi uma lacuna de CINCO ANOS que o filme não explicou. Melhor filme ou roteiro, não,  por favor.


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