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Macoto Takahashi e as Origens do Shoujo Mangá

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Antes de vir para o Rio, recebi a edição #7 da revista Mechademia. Não queria trazer o volume, então corri para ler um capítulo que tratava especificamente de shoujo mangá chamado Takahashi Macoto: The Origin of Shōjo Manga Style. A autora é Fujimoto Yukari e a tradução ficou por conta do antropólogo e professor Matt Thorn. Eu fiz scans rápidos do artigo. Não ficou com essa qualidade toda, peço desculpas, mas dá para ler. Voltando pra casa, tento fazer scanlations melhores.


De qualquer forma, o texto é fundamental para quem estuda shoujo mangá, porque trouxe da forma mais consistente que já vi (*levando-se em consideração que não leio japonês*), a discussão sobre as origens do shoujo mangá como mistura de quadrinho e ilustração. Normalmente, os textos menos específicos, creditam à Tezuka a paternidade do shoujo mangá com o seu A Princesa e o Cavaleiro. A brasileira Yoko Fujino já tinha discutido em sua tese de doutorado (Identidade e alteridade: a figura feminina nas revistas ilustradas. Japonesas nas eras Meiji, Taisho e Shôwa) que os olhos e as figuras longilíneas tinham origem nas revistas femininas japonesas. Como o trabalho da brasileira está em português, ele não é citado em trabalhos posteriores. Eu estou lendo um livro agora em inglês sobre isso, e que fala muito do ilustrador Junichi Nakahara, poderia se valer muito dele. O que Fujimoto Yukari discute de forma aprofundada é a invenção da chamada figure style, aquele recurso nascido com o shoujo mangá que é a projeção sobre as camadas de quadrinhos de uma personagem, algumas vezes sem conexão com a própria página.


Para Fujimoto, foi Macoto Takahashi quem trouxe para o shoujo mangá está marca distintiva e que as grandes autoras dos anos 1970 beberam muito nele e em outros mestres e mestras dos anos 1950 (*e antes, se pensarmos nos ilustradores...*). E isso é meio que óbvio para mim, quanto mais mergulho nas minhas leituras, ficando fácil entender o motivo de muitos verem ruptura, a chave é Tezuka. Se alguém vê em Osamu Tezuka o pai do mangá como um todo, e devemos a ele a narrativa cinematográfica, quando esta aparece no shoujo mangá, ele não é um artista de shoujo. Ele até conversa bem com a cultura visual “das garotas” (Shōjo Bunka) japonesa, mas ele não era um ilustrador de revistas femininas e isso pode ser visto inclusive nos olhos da primeira edição da Princesa e o Cavaleiro.


No texto da Mechademia, a autora vai mostrando como, a partir especialmente de 1958, na revista Shōjo, Macoto Takahashi vai introduzindo a figure style, e como esta personagem em destaque trazia legendas pedindo que as leitoras a desenhassem e enviassem para a revista. Infelizmente, procurei uma página de mangá de Macoto Takahashi que pudesse servir de exemplo mais contundente  e só encontrei as belas ilustrações dele... Sakura Namiki (さくら並木) já traz uma figure style, mas segundo o artigo, ele aperfeiçoou muito a coisa a partir de 1958 e este mangá é anterior.  Mas no texto da Mechademia há muita coisa, basta dar uma olhadinha e fica fácil entender como a partir da obra dele pudemos chegar a uma página como a da Rosa de Versalhes ((ベルサイユのばら) que eu coloquei aí embaixo.


Não era uma questão de mera cópia, a revista queria que as personagens fossem desenhadas com roupas criadas pelas leitoras. Às vezes, isso era premiado, as melhores ilustrações publicadas. Tentem imaginar o estímulo para as futuras desenhistas? Conforme o sucesso das figure style da revista Shōjo foi se consagrando, outros autores e autoras, como Miyako Maki e Masako Watanabe, começaram a fazer suas experimentações. Introduziram a personagem em meio corpo, colocavam as protagonistas em destaque, pediam ilustrações. Segundo o texto, foram as revistas infantis, Ribon e Nakayoshi, as que mais demoraram a incorporar a novidade. Só que a página de Macoto Takahashi era uma riqueza e ele está vivo e continua sendo um mestre até hoje.


Antes de Macoto Takahashi, quando um desenhista rompia com o enquadramento tradicional, era um bracinho, um pé. Ele coloca a figura inteira em destaque, como uma camada a parte. Muitas vezes, essa menina – normalmente é uma garota – parecia uma ilustração de revista de moda, mas Macoto Takahashi já fazia umas coisas bem ousadas nos anos 1950 com as figure style. Com o passar do tempo, essa mistura de ilustração e quadrinho, de ruptura com os enquadramentos tradicionais, das amarras na construção da página, se tornariam um dos charmes do quadrinho feminino japonês. Enfim, o texto também se propõe a discutir quem colocou estrelinhas nos olhos das personagens, mas era coisa demais e essa parte ficou corrida e comprimida no final. Quem quiser ler o artigo, ainda que com a baixa qualidade que comentei, pode baixá-lo aqui.

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