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Branca de Neve e o Caçador continua, mas sem a Branca de Neve

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Quando meu amigo Diego Hatake postou essa notícia no Facebook, senti-me da obrigação de comentar. Tinha citado o caso Stewart-Pattinson no meu último post sobre Gabriela, mas não tinha feito nada específico. Pois bem, se você esteve em Marte nesse último mês, o caso é o seguinte. Kristen Stewart – que provoca inveja inexplicável em 8 entre 10 adolescentes e até mulheres adultas – foi fotografada traindo Robert Pattinson – que inexplicavelmente é considerado galã por toda uma geração – com o diretor do filme Branca de Neve e o Caçador, Rupert Sanders, homem casado e com duas crianças pequenas. Stewart pediu perdão publicamente, afinal, alguém como ela não tem vida privada, vocês sabem, gerou-se toda uma torrente de fofocas travestidas de notícias “Stewart não está tomando banho faz dias”, “Pattinson está bebendo para esquecer”, e por aí vai. No fim das contas, eu já tinha comentado que a carreira da moça estava por um fio, afinal, ainda que tentando se desvencilhar dessa imagem em alguns filmes, a moça tinha sido marcada à ferro como a eterna virgem do cinema. E como em uma versão macabra e capitalista de The Hunger Games, parecia que toda a indústria do cinema queria que Pattinson e ela repetissem na vida real o par Bella e Edward. Pois bem, a única coisa boa que poderia vir disso tudo era o cancelamento da seqüência do ruim Branca de Neve e o Caçador. Mas, surpresa! Segundo o Hollywood Reporter, teremos, sim, um segundo filme só que focado no Caçador, o lindíssimo Chris “Thor” Hemsworth. Kristen Stewart está fora, só que – surpresa, de novo! – o diretor pode continuar.


Ainda que você odeie a Kristen Stewart, especialmente se você é mulher como ela, pare para refletir sobre as entrelinhas desse caso. Stewart não era casada. Mesmo em países com legislação baseada em códigos religiosos, dificilmente uma mulher receberia legalmente uma punição pesada por trair o namorado. Isso não torna seu ato bonito ou correto, afinal, não consta que Stewart e Pattinson vivessem um relacionamento aberto, mas ela traiu e se desculpou. Pattinson poderia, ou não, aceitá-la de volta (*e nos texto de Gabriela comentei da pressão sobre o moço*) e deveria morrer por aí. Já o diretor, Rupert Sanders, é um homem casado. Em muitos países, adultério é crime sério, ainda que no Ocidente seja, no máximo, um delito.

O problema maior é Sanders parecer coadjuvante nessa história. Sua traição à esposa e seu descaso pelo que poderia acontecer com sua família caso o relacionamento extraconjugal fosse descoberto, parece não ter peso algum. Ou a única que traiu foi Stewart e, por isso, merece que sua carreira “morra” (*já que mata-la fisicamente seria barbárie demais*), ou a traição de um homem, ainda que casado, é normal e esperada. Não estou pedindo que este homem seja ostracizado, que sua carreira seja congelada. Ele e sua esposa que se entendam, que ela perdoe ou peça o divórcio é questão privada. O que choca é que parece que voltei aos tempos de Gabriela outra vez, onde vigorava abertamente uma dupla moral. Aos homens, tudo era permitido, inclusive “lavar a honra com sangue” e às mulheres era exigido recato e virtude ou a morte, real ou figurada, já que ninguém fala com as prostitutas como se elas fossem gente comum. Elas têm um tratamento semelhante ao dos leprosos em tempos idos...


Olha, gente, se realmente sair continuação sem ela já é algo perverso e hipócrita; se o Rupert Sanders, ainda por cima continuar o diretor, será uma das situações mais nojentas dos últimos tempos. Homens já tiveram sua carreira prejudicada em Hollywood por questões de ordem “moral”. Alguns nunca puderam assumir sua homossexualidade, outros perderam papéis quando decidiram romper com a imagem da “família feliz”, mas estamos no século XXI, quando muita gente mente para si mesmo dizendo que “temos direitos iguais”, que “não precisamos de feminismo”. Veja como isso é uma falácia. Esse caso do filme Branca de Nave é um tapa na cara, pena que muita gente não vá conseguir entender, seja porque odeia a Kristen Stewart, seja porque acha que o “gatinho” do Robert Pattinson precisa ser vingado, ou porque adora o Hemsworth e quer o filme só para ele.

Olha, hoje é a Kristen Stewart, amanhã, menina, pode ser você! Muita gente por aí adoraria confiscar os direitos que as mulheres conquistaram à duras penas. Devolver noiva porque ela não é mais virgem, matar impunemente a adúltera ou a namorada que trai (*mesmo que somente na mente do sujeito*), poder ter liberdade para trair “porque isso para o homem é normal”. Tão normal, que esse tipo de acordo está sendo vendido como legítimo, bonito e digno de imitação na figura de Mr. Catra. Aliás, sua família poligâmica em que homens podem tudo e mulheres precisam ser “mulheres de respeito”, estava na tela da Globo no Profissão Repórter de hoje. Estou enojada, muito, muito mesmo, porque sei que os mesmos guardiões da moralidade que se rasgam com um casal homossexual sendo mostrado como feliz ou com um beijo gay nada dirão de Mr. Catra. E não pensem que estou misturando assunto. O tema é o mesmo, dupla moral e machismo nosso de cada dia.


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