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Sobre o Beijo da Polêmica

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Estava aqui refletindo sobre o incidente no Glorifica Litoral, realizado em São Sebastião (SP), quando, durante a pregação do Deputado-Pastor Marco Feliciano, duas moças (*muito bonitas, por sinal*) se beijaram em protesto.  Feliciano deu ordem para que fossem presas, as comparou com cachorrinhos, e uma das garotas – sim, eram novinhas, tem 18 e 20 anos – foi fisicamente agredida. Confesso que minha percepção a respeito do caso é conflituosa e espero que o texto não fique confuso, mas ele não tem como intuito fechar posição mesmo.

Logo de início, achei que foi uma grande burrada fazer este tipo de ação.  Concordei com o jornalista reacionário da Band, Cláudio Humberto, que chamou a ação de idiota, porque trouxe Feliciano de volta para a mídia em um momento no qual ele não estava mais em evidência, ainda que continue presidindo a Comissão de Direitos Humanos, o que é inaceitável.  Para ele, e continuo concordando, ações do tipo fazem com que Feliciano tenha cartaz, consiga atenção da imprensa e, claro, mais votos.  



Não vejo Feliciano candidato a presidente no ano que vem, ele é inteligente demais para perceber que ainda não é o momento (*mas ele acredita ser predestinado a isso*), mas pode tentar o Senado e se eleger.  Os eleitores de SP não são conhecidos pelo voto coerente (*Maluf, Clodovil, Tiririca, etc.*), vocês sabem.  Ou pode, também, voltar deputado, bombar nas urnas, e arrastar mais cinco ou seis como ele para o Congresso.  Já pensaram nisso?  Enfim, dar espaço para Feliciano é contraproducente sob qualquer ponto de vista.

Voltando ao caso das moças, em um primeiro momento pensei que o evento era em uma igreja.  Seria crime e, a meu ver, desrespeito mesmo, promover um protesto dentro de um templo.  Só que o tal Glorifica Litoral é na praia, local público, portanto.  Minha experiência com eventos gospel é suficientemente ampla para considerar que muita gente não se comporta como se estivesse cultuando, mas como se estivesse em um show qualquer, como se as estrelas do evento fossem os artistas e personalidades convidadas e, não, Jesus Cristo.  É exatamente por isso que eu evito estar presente em eventos assim, pois rejeito veementemente esse tipo de comportamento em cultos religiosos. Sou extremamente conservadora em relação a essas coisas, mais do que a média dos evangélicos/protestantes e afins.


Heteros ou gays deveriam ter o direito de expressar seu afeto sem serem agredidos.  Alguém pode ser punido por se beijar em público?  Eu beijo meu marido em público com freqüência, gosto muito de fazer isso e nunca fui agredida.  Desde quando se trata de crime? Agora, vendo as imagens de quando as meninas viraram alvo de Feliciano, se a guarda municipal, ou polícia, sabe lá, não as tirasse dali, acho que poderiam, sim, ser linchadas.  Sei que a questão vai depender de como o juiz irá interpretar o incidente, mas dado o perfil conservador de muitos magistrados a coisa pode ter um resultado desfavorável para as moças.

Houve quem dissesse, inclusive pessoas que odeiam Feliciano, que evangélicos não fazem esse tipo de ação agressiva em eventos LGBT.  Olha, desculpe, mas vocês estão mal informados, há ações das igrejas em eventos como a Parada Gay que acontecem há mais de 10 anos.  Desde intervenções amigáveis do tipo “abrace um LGBT e mostre que o ama”e ação social que escondem objetivos evangelísticos, igrejas inclusivas que desejam mostrar que “ser gay é OK”, até ações mais agressivas com placas e tudo mais.  Ninguém é preso por causa disso, ainda que homossexuais possam se sentir ofendidos por ter seu espaço invadido.  Mas a parada acontece em espaço público... Ninguém é preso, também, por pregar em público – mesmo que isso incomode a maioria das pessoas – ou coloque outdoors ofensivos (*inclusive a inteligência da maioria*) argumentando o direito à liberdade de expressão. 


Acredito que protestos como o feito pelas duas moças pouco ajudem a atrair o apoio da opinião pública, muito menos a dos evangélicos, para a compreensão de que homofobia deveria ser crime e que o Estado Laico está sob assalto.  Infelizmente, para a maioria trata-se de desrespeito e agressão; sem parar para pensar que a praia não é igreja.  Culturalmente também somos muito tolerantes com a violência policial.  Apanharam, porque mereceram; ou, pior, apanharam da polícia, porque pai e mãe não bateram em casa.  

Estou cansada de protestos violentos, agressivos, burros até, de falta de educação travestida de reivindicação de direitos, mas tenho medo da intromissão da religião em política e do confisco dos espaços públicos e dos direitos civis.  Não achei o beijo no evento a atitude mais inteligente, mas sou solidária às moças, ofensa mesmo é ter políticos e pastores como Feliciano.  Para quem quiser assistir, abaixo está o vídeo feito pelo pessoal responsável pelo evento, e que é ligado ao Silas malafaia, e que deseja que a verdade sobre o incidente seja revelada.


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