Ontem terminei de ler Orange (オレンジ) #3. Como os dois volumes anteriores, a série segue mantendo sua qualidade e me prendendo do começo ao fim. A parte chata é que vou demorar mais de um mês – estou no Rio e volto para Brasília ainda em janeiro – para ler o próximo volume. Agora, ao terminar o terceiro volume, tenho a dimensão do desespero que as leitoras e leitores devem ter sentido quando Takano Ichigo decidiu parar o mangá e a anunciar sua aposentadoria. Imagina não terminar de ler uma série como Orange?
Para quem caiu nesta resenha sem ter lido as anteriores (*volume 1 e 2*), Orange começa com a protagonista, Naho, uma garota de 16 anos, recebendo uma carta de seu eu de dez anos no futuro. O que esta carta – que ela imaginou que pudesse ser um trote – lhe dizia? Um amigo, Kakeru, não estaria com eles dez anos depois e que ela poderia impedir que ele partisse. Só que Naho não conhece nenhum Kakeru, mas ao chegar no colégio naquela manhã, tudo o que a carta diz começa a acontecer...
Neste volume, nós ficamos sabendo que Suwa também recebeu uma carta do seu eu do futuro. A carta, como não poderia deixar de ser, tem pontos em comum com a de Naho e outros que diferem, afinal, os remetentes são pessoas distintas que tem pontos de vista diferentes sobre os mesmos acontecimentos, os últimos dias de Kakeru. Suwa aparece mais, também, e se mostra mais impulsivo e bandeiroso quanto a necessidade de proteger Kakeru. Ele é capaz de abraçar o colega e mostrar e emoções que Naho, que é apaixonada por Kakeru, não consegue. É até engraçado isso...
O contexto cultural japonês, que não estimula o contato físico, somado à personalidade de Naho, que é tímida, retraída, impedem a menina de tocar Kakeru. Espero que um beijo saia no próximo volume. Já Kakeru, em virtude da sua culpa e depressão, acha-se indigno de amar Naho, de ser seu namorado. Isso em um mangá de cinco volumes precisa ser desenrolado rápido, mas imagino a chatice que poderia se tornar nas mãos de uma mangá-ka disposta ou empurrada a estender uma situação dessas por 10 volumes de história...
Neste volume, se mantém a discussão periférica, mas importante, sobre as possibilidades de se criar várias linhas de tempo alternativas. As personagens estão cientes que, ao modificarem os eventos do seu presente, não estarão mudando o futuro de onde vieram as cartas, aliviando assim, a culpa e a tristeza de seus “eus” dez anos mais velhos. Falando nisso, é revelado no volume #3 que todos receberam cartas do futuro. Os cinco amigos estão unidos para salvar Kakeru. A revelação ajuda a compreender certos comportamentos do volume #2.
Um dos destaques do volume é a cena em que todos decidem se oferecer para correr com Kakeru no revezamento. Foi cafona, foi exagerada, no entanto Orange é tão simpático que acabei relevando... Tudo só acontece, aliás, porque eles decidem agir em contradição com o recomendado nas cartas. É Suwa quem estimula Naho a agir sem depender da carta, afinal, vários acontecimentos começaram a destoar. Meu pressentimento é que essa coisa de deixar de olhar as cartas pode terminar mal, mas vamos esperar o próximo volume.
De resto, além de uma abordagem sensível e cuidadosa da depressão e da culpa na adolescência, Orange fala de amizade de uma forma tão delicada e alegre que contagia até gente velha como eu. Antes, Karekano (*até o volume #10) e Honey & Clover (ハチミツとクローバー) eram os melhores mangás sobre amizade em tempos de escola ou faculdade. Orange já desbancou Karekano (彼氏彼女の事情) e só precisou de três volumes para isso.
A arte da autora parece ter melhorado muito. Aliás, ela fala de seus esforços para aprimorar a sua arte e de suas dificuldades no freetalk no final. Fiquei sabendo, inclusive, que ela tem uma editora. Enfim, a arte está linda, especialmente, os closes nas personagens e os quadros amplos que deveriam ser coloridos nos originais. Parece que houve um ligeiro salto de qualidade de um volume para outro.
Concluindo, digo que estou ignorando a historinha que vem no final, Haru-iro Astronaut (春色アストロノート) é tudo o que me afasta de um mangá shoujo, mas só mostra o quão versátil a autora é. Queria mais Orange, não o mangá bônus bobinho. E, sim, defendo que Orange é o melhor shoujo lançado no Brasil em muito, muito tempo. E que a JBC está fazendo um trabalho acima da sua média, aliás, basta pegar Limit (リミット) e comprovar. Fazia tempo que não ficava ansiosa por ter em mãos uma edição nacional de mangá. Orange está me fazendo reviver outros tempos e eu estou feliz com isso. Agora, sou capaz de imaginar o desespero dos fãs da série quando a autora decidiu interrompê-la. Eu ficaria muito, muito revoltada e seria só o começo...